(...)"Os documentos mais antigos em que se encontram referências aos lugares da serra são uma multa infligida pela câmara da Lousã em 1679 e o registo de propriedades foreiras, mandado fazer por D. Pedro II em 1687, em que se mencionam os "casais" que existiam na serra.
Existem fortes indícios da existência de uma forte dicotomia entre as gentes do vale e os serranos. Enquanto que para os primeiros o centro da sua identidade era a vila da Lousã, os últimos tinham uma identidade própria, um vínculo a uma entidade mais importante que a vila: a serra.
De igual modo, os rituais comuns entre serranos e restante freguesia ilustram esta separação, pois os serranos só participavam nos festejos que não se realizavam na vila (centro da freguesia) mas sim a meio caminho entre a montanha e a vila, no santuário da Senhora da Piedade. Os da vila subiam ao santuário a buscar a santa, sem que os da serra se incorporassem na procissão. Depois a santa percorria o vale da Lousã e, no fim, os povos da serra desciam à vila e, em procissão, traziam a santa de volta ao santuário. Neste ritual está simbolizada a divisão em que o santuário seria o limite entre a serra e o vale. As diferenças eram manifestas também nos rituais e actividades religiosas. Os próprios mortos eram transportados apenas por quatro homens, serra abaixo, sem acompanhamento da família, até ao cemitério onde eram deixados sem sequer se aguardar o padre ou o enterro.
A influência do meio serrano é de tal modo determinante na diferenciação da cultura destas comunidades que se reflecte a todos níveis, desde as casas ao modo de vida. (...)
(...) "Vista de longe, com a serra de Trevim a servir-lhe de fundo, tem um aspecto muito curioso. O casario forma uma linha sinuosa, no seu conjunto, tendo como ponto fulcral o largo da fonte. As casas, de xisto à vista, erguem-se umas a seguir às outras formando estreitas vielas, ou pela encosta acima rodeadas de verdura. Construídas ao longo dos anos por pedreiros locais, as suas paredes são bem travadas por duras e naturalmente faceadas pedras de xisto, de um colorido que dispensa a cal. As padieiras das portas e janelas são de madeira de castanho, por vezes em arco, tendo os carpinteiros aproveitado a curvatura natural dos troncos, assim evitando terem de descarregar as padieiras. Foi a primeira vez que encontrei este sistema. A cobertura é de telha, mas as lajes são empregadas nos beirais e por cima das telhas para o vento as não levar. De lousa são também as soleiras das portas e os degraus dos balcões. Há típicas varandas e vestígios de outras" (PEREIRA, 1988)
Evolução da população residente:
1885 - 74
1911 - 129
1940 - 79
1960 - 90
1970 - 59
1981 - 2
1989 - 7 (na)
1991 - 9 (na)
2006 - 4 (na)
2008 - 3 (na)
A serra
A Cordilheira central, de que a serra da Lousã constitui a extremidade sudoeste, é o mais importante bloco montanhoso de Portugal, elemento essencial do relevo das beiras. Impõe-se à paisagem circundante pela continuidade do seu conjunto, pela continuidade do seu conjunto, pela acentuada altitude relativa e pelo declive abrupto do seu rebordo noroeste, de tal forma acentuado que os mais altos cumes (acima dos 1000m de altitude) culminam a escassos 2 ou 3 km das terras baixas que se estendem nos sopés das montanhas
A serra da Lousã (1204m), em ligação com a serra do Açor e a serra da Estrela (1993m), é o princípio do mais imponente dos alinhamentos montanhosos de Portugal (Castro Caldas, 1988), sendo fundamentalmente xistosa e precâmbrica, portanto geologicamente muito antiga (Paiva, 1988).
IN: Guia da rede de percursos da serra da Lousã
Cadernos Quercus - Série D - nº 02 -1996